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Vegetarianismo: uma alimentação saudável e sustentável

A causa animal e a preocupação com o meio ambiente são os principais motivos para o crescimento da comunidade vegetariana no mundo

Reportagem por Flavia Keretch

13/12/2022

Consumidores têm buscado cada vez mais produtos livres de crueldade animal, seja por consciência ambiental ou amor aos animais. O vegetarianismo vem crescendo e ganhando espaço nos últimos anos, de acordo com uma pesquisa realizada em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), cerca de 14% da população brasileira se considera vegetariana.

Isabella Honório, 20, estudante de jornalismo, fala sobre sua decisão de apoiar a causa animal através do veganismo. “Comecei a estudar e ver muitos documentários sobre a indústria pecuária e como os animais sofrem. Como eles conseguem ter emoção e estabelecer laços uns com os outros, e não precisamos acabar com a vida deles. Possuímos formas de se sustentar sem precisar ferir o corpo de outro ser vivo”.

Isabella conta que inicialmente foi complicado se tornar vegana, pois precisou aprender a reeducar sua alimentação e paladar com produtos que nem sempre eram fáceis de encontrar. Ela relata que hoje em dia já não sente falta de comer alimentos derivados do leite. “Sinto mais falta do acesso do que necessariamente do gosto, alimentos veganos prontos não são algo tão acessível. Quando parei de comer carne, comia a refeição sem fazer nada para substituir. O que me ajudou bastante foi criar substituições baratas para suprir aquele alimento de origem animal. Comecei a fazer leite de aveia, inhame e queijo vegano. Você aprende a cozinhar e isso ajuda a criar uma relação mais saudável com a comida. Hoje tenho uma alimentação muito mais saudável do que quando comia carne”, diz ela.

A nutricionista Aiane Benevide Sereno, 32 anos, explica que após a exclusão da carne da alimentação, fonte diária de vitamina B12 e ferro, é necessário que a pessoa passe a consumir alimentos equivalentes. “Para atingir a quantidade diária de recomendação de B12, alguns alimentos fortificados podem ser uma alternativa de consumo. Bebida e levedura vegetal, ou cogumelos para os vegetarianos estritos. Em alguns casos é necessário realizar a suplementação conforme o seu nutricionista. Já fontes alimentares de ferro de origem vegetal é comum encontrarmos em nossa refeição cotidiana”.

Os termos “vegetarianismo” e “veganismo” tem se tornado cada vez mais populares, porém muitas pessoas ainda se sentem confusas a respeito das diferenças entre seus significados. O “vegetariano” é utilizado como um termo “guarda-chuva” que abrange diversos outros grupos como os ovolactovegetarianos, lactovegetarianos, vegetarianos estritos e veganos. A tabela abaixo do Portal Vegano da América Latina ilustra as diferenças de seus significados:

                                       Fonte: Portal vista-se.com.br, 2012.

Diferente do que muitos acreditam, qualquer pessoa pode se tornar vegetariana ou vegana. Até o momento, estudos não apontaram a relação da exclusão de carne e outros alimentos de origem animal com doenças degenerativas ou metabólicas. “Muito pelo contrário, as gestantes vegetarianas, por exemplo, podem ter uma alimentação saudável, sem riscos, devido ao incentivo de menor consumo de alimentos processados e em maior quantidade de alimentos in natura”, afirma a médica Sereno.

Aiane Sereno descreve que uma dieta com alimentos sem origem animal pode trazer diferentes benefícios à saúde, como a redução dos índices de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, devido aos alimentos cardioprotetores. Equilíbrio do intestino, pelo alto teor de fibras. Maior tendência de manutenção do peso corporal saudável e diminuição dos índices de obesidade e resistência à insulina.

Uma pesquisa da Allied Market Research apontou que o mercado vegano foi avaliado em US$ 19,7 bilhões em 2020, e a expectativa de crescimento até 2030 é de mais de US$ 36,3 bilhões. Esse aumento se deve principalmente a pessoas “flexitarianas”, termo denominado aqueles que consomem carne em menor proporção em sua rotina alimentar, por vontade própria. Um estudo realizado pelo Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) em 2021, a pedido da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), apontou que 46% dos brasileiros deixam de comer carne pelo menos uma vez na semana, por escolha.

Para Sereno, o crescimento da comunidade vegetariana no mundo se dá principalmente porque a população está cada vez mais informada, procurando alternativas para a saúde de forma sustentável e consciente. “Estudos comprovam que a carne vermelha, quando consumida em alta quantidade, está associada ao aparecimento de câncer colorretal, processo inflamatório e alteração da microbiota intestinal”.

Outro fator que tem contribuído para a diminuição do consumo de carne é a conscientização ambiental entre as pessoas: a pecuária é uma das atividades que mais contribuem para o aquecimento global. Estudos apontam que a pecuária bovina é responsável pela emissão de pelo menos 50% dos gases-estufa, principalmente do gás carbônico (CO2) e do metano (CH4).

Porém, infelizmente ainda existe muito preconceito com a comunidade vegetariana. Isabella Honório comenta que a maior dificuldade que encontrou na adaptação para o vegetarianismo não foi necessariamente a mudança de alimentação em si, mas a sua relação com as pessoas: “você explicar para os seus avós o que é o veganismo leva um certo tempo. Existem perguntas inocentes. Mas também tiveram pessoas que falaram que o que eu estava fazendo não adiantava de nada. Que estava sendo estúpida, decisão burra. Já falaram que comeriam o dobro de carne, só porque sou vegana”.

Um dos mitos sobre o vegetarianismo é a prática ser elitista. No entanto, Honório explica que independente de ser vegetariano ou não, uma pessoa que come carne e possui uma boa renda financeira, quando vai ao mercado faz uma compra muito diferente de alguém que não possui tanto dinheiro e também come carne. “Existe esse argumento que o veganismo é elitista, porque, por exemplo, você não encontra leite de soja barato em todos os lugares. Mas as coisas mais baratas que você compra no mercado são os grãos, os legumes. O veganismo popular não é comprar uma almôndega do Futuro, que é realmente muito mais caro. É uma questão de fazer escolhas e adaptar os alimentos à sua receita.”