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Resenha da obra "A máquina do ódio", de Patrícia Campos Mello

Relato pessoal de como as fake news, a perseguição e o linchamento virtual podem afetar a vida de uma pessoa

Por Flavia Keretch

Patrícia Campos Mello é uma renomada jornalista, escritora e comentarista brasileira, autora da obra “A máquina do ódio”, lançada em junho de 2020. A jornalista já cobriu matérias de guerra no Iraque, Síria e Afeganistão, passou por diferentes cenários perigosos e de risco por conta de sua profissão. Porém, ela afirma que a maior ameaça que já vivenciou foi a perseguição que sofreu aqui no Brasil.

Em outubro de 2018, ao sair a matéria escrita por Patrícia sobre empresários comprarem disparos em massa de mensagens no WhatsApp para favorecer o então candidato Jair Bolsonaro, a jornalista foi brutalmente linchada e atacada nas redes sociais. A disseminação de notícias falsas, comentários machistas e sexistas explodiu no mundo virtual. Mello teve seu nome e reputação colocada em risco, até mesmo a vida de seu filho foi ameaçada.

Fechei todas as minhas redes sociais. Em uma delas, o Facebook, um fulano afirmava: “Se você quer a segurança do seu filho, saia do país. Não é uma ameaça, é um aviso”. Manuel tinha seis anos. (MELLO, 2020).

O livro “A máquina do ódio” é um misto de desabafo pessoal da autora e uma reportagem informativa. É perceptível que Patrícia escreveu com pressa, pois queria provar sua inocência o mais rápido possível, mostrando de forma detalhada e sucinta todo o linchamento que sofreu, as fake news inventadas a seu respeito e as pesquisas realizadas das ferramentas tecnológicas usadas para manipulação da opinião pública (combinação de bots, sockpuppets e trolls).

A autora traz os dois cenários de forma muito esclarecedora, colocando em pauta ainda a misoginia e o assédio contra mulheres (especialmente as jornalistas) – sendo potencializados pelas falas do presidente Bolsonaro e sua “turma”. Destaquei duas frases de Patrícia que me marcaram muito sobre essa questão das mulheres serem massacradas por simplesmente existirem e fazerem seu trabalho “No Brasil, estamos descobrindo que ser mulher e jornalista nos transforma em alvos.” e “Não fui a primeira e não serei a última mulher a sofrer ataques misóginos por fazer jornalismo no Brasil.”

Além disso, Mello explica perfeitamente em seu livro como a extrema direita limita e ataca a liberdade de imprensa e os impactos da descrença da população no jornalismo profissional, sendo este boicotado e colocado como não confiável cotidianamente por líderes políticos.

Ou seja, as pessoas acham que a mídia tradicional mente e tendem a acreditar em conteúdo enviado por WhatsApp pela família e por amigos desde que tais conteúdos confirmem suas crenças. (MELLO, 2020).

Como leitora, algo que me incomodou na obra foi o excesso de informação e dados estatísticos. Embora eu entenda que Patrícia trouxe eles justamente para dar força em seus argumentos, me senti um pouco perdida e por vezes cansada. No mais, acredito ser uma excelente obra jornalística que defende a democracia.